A semana que passou - uma mão cheia de coisas

A mão cheia compõe-se da palma mais os cinco dedos com que tamborilo neste teclado. E com eles se conta numa penada a semana que passou:

Mindinho: o caso do roubo do paiol de Tancos
Continua o caso do roubo de armas de Tancos sem desenvolvimentos nem solução, e apenas se discute se há relatório ou ainda não. Como assim? Dizia o famoso poeta e gastrónomo Chinês Su Shi 苏轼 (1037-1101) que "As famílias, quando uma criança nasce, querem que ela seja inteligente. Eu, que pela inteligência me tenho prejudicado a vida toda, apenas espero que a criança seja ignorante e estúpida. Assim, terá uma vida tranquila e será um Ministro com gabinete." Não é preciso dizer mais nada.

Anelar: a malograda tentativa de referendo na Catalunha
Há muitos ângulos por onde abordar a questão. Barcelona e Madrid, ambos, estão cheios de razão e da falta dela. Não me interessa entrar por aí. Mas qual deve ser a posição de Portugal neste caso? Portugal habita a mesma península que os intervenientes. Deve o Governo abster-se de qualquer palavra ou apoio a que lado for, mantendo prudente imparcialidade e esperando atento pelo desenlace da situação. Ganhe este braço-de-ferro quem ganhar, e perca quem perder, no fim de contas temos de voltar ao business as usual com ambos os lados.

Este seria o mapa das eventuais independências dos vários povos da Europa. De registar que, por ser um Estado-Nação em que Estado e Nação coincidem exactamente no mesmo território, Portugal é dos poucos países que ficaria intacto.

Do meio: eleições autárquicas em Portugal
Ultrapassando a tristeza de ver os socialistas a ganharem mais de metade das câmaras do meu país, vejo a equívoca estratégia eleitoral do PSD ser punida com o voto noutras forças políticas. Tal circunstância terá provavelmente como consequência o fim do ciclo da liderança de Pedro Passos Coelho no PSD. Passos Coelho não foi brilhante no Governo nem na oposição, mas a ele estou eternamente grato por ter derrotado José Sócrates em 2011. Mais uns anos de Sócrates, e não sei o que restaria de Portugal para os meus filhos. Venha Rui Rio.

Indicador: a morte de Hugh Hefner
Morreu o fundador da revista Playboy. Antes de ser o caquético baboso que víamos a rodear-se das mais jovens practicantes da dita mais velha profissão do mundo, este homem não era um tonto qualquer. Muito hábil como publicista e empresário, Hugh Hefner compreendeu as circunstâncias dos anos 60 na América e contribuiu de forma decisiva para a revolução sexual. Desta caixa de Pandora saíram vários monstros, das feministas queimadoras de soutiens ao lobby gay, dos ideólogos de género aos partidários da legalização do aborto, dos pró-barrigas-de-aluguer aos pornógrafos, dos pedófilos aos polígamos, aos zoófilos e a inúmeras outras perversões que a tal revolução sexual nos obriga gradualmente a tolerar em nome da liberdade. Se as feministas mais radicais consideram a mulher um deus capaz de decidir sobre a vida e a morte de outros seres humanos (como no aborto), Hugh Hefner tratava a mulher como um simples objecto cuja utilidade era satisfazer todos os desejos sexuais do homem. Nisto consiste, para uns e para outros, a liberdade sexual: desafiar abertamente a moral judaico-cristã em crise e substituí-la por uma nova moralidade que se recusa a aceitar a mulher e o homem na sua ordem natural e plena dignidade humana. O recente duelo eleitoral de Hillary Clinton e Donald Trump personificou duas faces desta mesma moeda: a revolução sexual, para a qual Hugh Hefner tanto contribuiu com a sua revista e trabalho, e que tantas famílias destruiu. Hugh Hefner morreu, mas temo que, infelizmente, o seu legado continue a fazer vítimas tanto do lado da procura como da "oferta".

Polegar: uma semana cheia de trabalho
Não é que me queixe, eu faço o que gosto! Mas tendo uma viagem grande pela frente, gostaria de estar mais disponível para a família antes de ir. No entanto, há várias coisas para pôr em ordem antes de fazer as malas e partir. Gostava de esticar o tempo e encurtar o cansaço. Não posso. É nisto que me lembro deste poema de Miguel d'Ors, que me ficou dos bons tempos de quando estudei em Navarra:

Reproche a Miguel d'Ors

Tu corazón navega en la «Kon-Tiki»,
se adentra con Amundsen por las grandes
soledades heladas,
sube al Nanga Parbat con Hermann Buhl, se abre
paso hacia el Amazonas, monta potros,
se hunde en ciénagas verdes con fiebres y mosquitos,
atraviesa desiertos, caza el oso.

Y tú aquí, traidor, en un escalafón y un horario.

Comentários

  1. Em complemento e na vez da palma, o facto de ser muito mais fácil governar com o apoio do PCP (Sindicatos). Hoje passei por uma manifestação e respectivos exageros, desacatos e aparato policial, de uma força de segurança: os guardas prisionais. Terá sido cuidadosamente marcada para o pós-eleições, para não estragar a fotografia de um país governado pela "democracia" de esquerda?

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  2. Meu caro JMP, não sei se a manifestação de guardas prisionais (pela qual também passei, diante daquela que deve ser uma das prisões mais bonitas do mundo) estava marcada com antecedência. Mas posso arriscar que, pelo impacto que a geringonça está a ter no PCP, as manifestações comecem a ser cada vez mais e os orçamentos de Estado passados cada vez com maior dificuldade.

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