Autárquicas 2017



Como é óbvio, os Jacarés reuniram-se em magna tertúlia de whastapp por forma a discutir as eleições autárquicas do passado 2 de Outubro.

Alguns pontos a reter:
  1. Como é que é possível alguém que já foi condenado, poder concorrer? Eu, para poder exercer a minha actividade profissional, tive que apresentar o registo criminal. Mais, como é que esse candidato ganha as eleições? Eu bem sei que a política está descredibilizada, mas assim tanto?
  2. CDU perdeu, e Jerónimo deixou o aviso : “serão muitos aqueles que, no plano local, vão ter saudades da CDU" (aqui) ,  o que não deixa de sem engraçado quando, em 2013, após o resultado favorável ao seu partido e desfavorável à coligação PSD-CDS, disse o seguinte: “expressão significativa no plano eleitoral do crescente isolamento político e social dos partidos do Governo que só reforçam a necessidade, possibilidade e urgência da sua demissão (aqui). Não obstante a estas incoerências do líder da Coligação Unitária Democrática, um voto de louvor ao vereador da CDU por Matosinhos, que, foi indubitavelmente o candidato mais preparado e preocupado nos debates por Matosinhos.
  3. Vitória indubitável para o PS, apesar da derrota no Porto. Daqui fica a faltar perceber as sondagens da véspera que davam um empate técnico (aqui). Terá sido encomenda do Partido Socialista ou psicologia invertida de Rui Moreira por forma a apelar ao voto? Seja como for, não quero acreditar que apenas se trata de um erro técnico.
  4.  CDS-PP com a maior vitória de sempre em Lisboa. Muito importante o papel de Assunção Cristas na forma como rapidamente demarcou o partido de Paulo Portas que apenas apareceu no final da campanha. A Cristas deve-se o reinventar de um partido derrotado nas legislativas e deve-se a separação do cordão umbilical com PPD-PSD. Vamos ver se se consegue aguentar. Tem de coordenar muito bem o trabalho como oposição na maior Camara Municipal do País assim como liderar o partido na oposição no Parlamento. E, até agora, Cristas mantém-se fiel às suas ideias, criticando já o Governo por promessas a conta-gotas a constar no orçamento. Como líder, transmite energia, experiência e credibilidade. Esperemos que assim se mantenha.
  5. PSD. Derrota estrondosa. Erros atrás de erros. Parece que as distritais quiseram “fazer a cama” a Passos Coelho. Confesso que ainda não percebi qual a estratégia/ esperança de Passos. Em Lisboa, Teresa Lea Coelho não se impôs. No Porto, apesar de ter uma grande estima pessoal por Álvaro Almeida, claramente nunca seria um candidato capaz de lutar com Rui Moreira ou mesmo Manuel Pizarro. Não por falta de visão política, não por falta de qualidades, mas por falta de um aparelho partidário / preponderância na cidade (esta última foi a cartada de Rui Moreira na última década).

Uma breve nota sobre Pedro Passos Coelho: enquanto PM, em tempos de difíceis negociações com a Tróika e oposição, gabo-lhe a persistência e sentido de Estado. Medidas de austeridade nunca são fáceis de se tomar.  Soube-se rodear de pessoas com esse mesmo sentido de Estado, como Vítor Gaspar, Álvaro Almeida, Pires de Lima, entre outros cuja reputação não estava dependente de um cargo público (a política está descredibilizada, ninguém confia nos nossos líderes, e por isso, não será fácil sair de uma carreira “privada” reconhecida internacionalmente para aceitar um cargo Governativo, para não falar da discrepância salarial), e fez o país avançar.

Mesmo com políticas austeras, ganhou as eleições de 2013, mas não conseguiu formar Governo.  E aqui, Passos Coelho perdeu-se. Não soube lidar com a “Geringonça” nem soube liderar o seu partido. Não conseguiu reformular o seu discurso e culminou na hecatombe autárquica.

Voltando ao tema do PSD, e com a saída do seu líder perfilam-se alguns candidatos como Rui Rio, Marques Mendes, Santana Lopes (já que Rangel e Montenegro não avançam).

Antes de mais, o PSD necessita de uma reflexão profunda. É necessário recentrar o partido nas suas matrizes, na sua ideologia. Não pode oscilar entre partido liberal ou social-democrata conforme o líder. Há que manter uma coerência, uma cultura, uma visão de futuro.

Entre os potenciais candidatos, a minha preferência vai para Rui Rio que, apesar dos anticorpos internos, da boa relação com Costa, e de ser, muitas vezes, pouco flexível, é também rigoroso, assertivo e coerente.

No entanto, Rio irá ter de provar que é mais do que um presidente da Câmara, que consegue mudar primeiro o rumo do partido e aguentar uma travessia no deserto na oposição. O Facto de ter 60 anos e o PS estar relativamente confortável implica que terá 64 quando eventualmente conseguir chegar a PM ou 68 no caso de não vencer nas próximas eleições poderá também ser um entrave a possíveis apoiantes.


As próximas semanas serão certamente animadas. Quem irá substituir PPC? 
LBM

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