O que fica da semana que passou

O Presidente dos EUA Donald Trump está a terminar uma longa viagem ao Extremo Oriente, onde pôde visitar tanto o recém-reeleito Primeiro-Ministro do Japão Shinzo Abe como o recém-renomeado Presidente da R.P. China Xi Jinping. Embora todos convirjam na preocupação que é uma Coreia do Norte nuclear, os desafios domésticos que enfrentam são muito diferentes. Com a militarização do Japão e o sucesso da Abenomics, com a concentração do poder imperial em Xi Jinping e o avanço da iniciativa “uma faixa, uma rota”, com os testes balísticos e provocações constantes da Coreia do Norte, com todos a crescer, teme-se pelo choque. Kim Jong-un terá chamado Trump de “velho”, ao que este ripostou no twitter que o norte-coreano seria “baixo e gordo”. O actual presidente não é da mesma escola de Reagan, que quando igualmente confrontado com a sua idade avançada defendeu-se de forma bem mais graciosa respondendo “I will not make age an issue of this campaign. I am not going to exploit, for political purposes, my opponent's youth and inexperience.” Outros tempos!
 
Shinzo Abe, desde 2012 o Primeiro-Ministro do Japão

Por falar noutros tempos, acompanho com moderado interesse o recente rol de acusações de assédio e abusos sexuais em meios como o do cinema e da política. Mas ao acender a TV verifico que os filmes que passam são quase todos violentos ou sexualmente explícitos. Grande parte dos filmes que saem de Hollywood só podem ter sido concebidos por tarados. Qual é o espanto? Mas ainda não vi ninguém falar de Bruxelas e Estrasburgo, onde as assessoras, assistentes e estagiárias são escolhidas a dedo. Da mesma forma, lobistas, jornalistas e diplomatas têm instruções para aproveitar os pontos fracos dos políticos e burocratas que querem influenciar, corrompendo-os com dinheiro, promessas, sedução, álcool, drogas, ou chantagem. No assédio sexual há uma espécie de coação explícita ou até implícita, que se manifesta através uma relação desigual de poder. Mas o poder não está sempre onde é mais óbvio. Além do mais, e por muito que custe às feministas ouvir, o decoro na forma de vestir e de estar ajuda a evitar ambiguidades e é a primeira protecção contra os abusadores. As feministas queimadoras de soutiens são tão filhas da revolução sexual dos anos 60 como os machistas da Playboy, e juntos quiseram abolir todas as barreiras morais e sociais que impediam os depravados de andar de rédea solta. Seria interessante que estes casos servissem para pensarmos na urgência de recuperarmos os valores da castidade, do decoro e do cavalheirismo.
 
Amadis de Gaula, exemplo de cavalheirismo

Aqui em Portugal, houve um acordo de governo entre o PS e o BE para a Câmara Municipal de Lisboa: por assim dizer, o PS fica com o dinheiro e o BE com os valores. Uma vez mais, o BE imporá a todos a sua agenda fracturante a partir de uma base eleitoral mínima. Também vai aquecendo o duelo de Rio e Santana no seio do PSD, duelo esse que é de ideias e de personalidades: Santana é instável e despesista, mas é patriota e cristão; Rio é bom de contas e sério, mas é a favor da regionalização e de algumas causas fracturantes. A Web Summit é uma anedota, mas em compensação os organizadores serão assombrados pelos nossos melhores fantasmas. Falando de fantasmas, fui ver ao cinema a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto e realizada por João Botelho. Não estava mal para o curto orçamento e limitações técnicas que o cinema português tem, mas não gosto destas histórias contadas com imensos flashbacks e flashforwards, cansa-me. De facto, adormeci. As façanhas na “Peregrinação” são tão extraordinárias que se contava a velha piada do “Fernão, mentes? Minto.” Fernão Mendes Pinto é um grande herói português e é plausível que alguns daqueles acontecimentos sejam verdadeiros. Não sejamos como Fernando Rosas, para quem Portugal nada tem na sua História que seja digno do nosso orgulho, menorizando os grandes feitos ou colocando-os em dúvida. A “Peregrinação” diz tanto sobre nós quanto a sua recepção. Não estará tudo perdido se entre exagerados e cépticos se salvar alguma coisa.

Cláudio da Silva é Fernão Mendes Pinto em "Peregrinação"

Por fim, dei por mim a fazer uma lista de algumas personalidades sub-40 que já são importantes no mundo quotidiano e sê-lo-ão ainda mais nas próximas décadas: Emmanuel Macron (França, 39 anos), Jared Kushner (EUA, 36 anos), Ivanka Trump (EUA, 36 anos), Príncipe William (Reino Unido, 35 anos), Kate Middleton (Reino Unido, 35 anos), Mark Zuckerberg (EUA, 33 anos), Kevin Systrom (EUA, 33 anos), Príncipe Mohammad bin Salman (Arábia Saudita, 32 anos), Sebastian Kurz (Áustria, 31 anos), Hugh Grovesnor (Reino Unido, 26 anos), e os Jacarés (Portugal, 29-30-31 anos).

Comentários

  1. Chamou-me o caríssimo LBM à atenção, e muito bem, que Rui Rio não se definiu exactamente como estando a favor da regionalização. Diz Rui Rio que "não quero dizer que sou a favor da regionalização. Não sou, depende. Aquilo que digo é que vale a pena o país encetar um debate profundo para encontrar uma forma mais equilibrada de gerir o país".

    Ora, eu penso que só quer reabrir a questão quem quer mudar as coisas. Rui Rio não admite que é a favor da regionalização, mas a sua proposta parece ir nesse sentido.

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