PSD - Análise de uma campanha - Notas soltas






Actualmente, vivemos tempos de relativa prosperidade. Tal, é visível no crescimento da economia como um todo e consequente diminuição do défice, desemprego e melhoria transversal nos principais indicadores económicos. 

Estes pontos, ainda que favoráveis, poderiam ser ainda melhores, e mais importantes, não fosse o caminho e a visão de curto-prazo escolhido pela Geringonça.


Paralelamente, é tempo de eleições no maior partido da oposição, o PSD, em que dois candidatos com personalidades diametralmente opostas se defrontam.


E, apesar de uma aparente proximidade em políticas económicas, o primeiro debate televisivo foi fraco. Muito fraco.


Mais de metade do tempo foi passado em ataques pessoais, com particular tempo de antena dado a Pedro Santana Lopes (PSL). O jornalista / moderador Vítor Gonçalves (VG) esteve, na minha opinião ao nível do debate, interrompendo o raciocínio de Rui Rio (RR) por diversas vezes, e deixando arrastar aquilo que menos interessa aos eleitores do PSD e que mais interessa às vendas de jornais e manchetes sensacionalistas.


PSL, um “habitué” em contradições ou trapalhadas, passou da defesa de um financiamento aos partidos essencialmente privado para, em menos de 24h, defender um financiamento público desde que moderado. Dá ideia de este aproveitar um comportamento “free-rider”.


Daquilo que retive no debate (e não sendo um fã de PSL), a sua principal preocupação passou por colar RR à esquerda, usando golpes baixos como: i) a apresentação de um fotografia de Rui Rio com Vasco Lourenço na Associação 25 de Abril; ii) manipulando as palavras de RR afirmando que este último apoiará um bloco central, entre outras.


Quanto à primeira, a associação 25 de Abril já corrigiu PSL dizendo que também Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Relvas e outros ligados ao PSD foram convidados para palestrar. 


Relativamente ao bloco central, RR sempre defendeu que um bloco central (que apenas por uma vez existiu neste regime) só faria sentido em circunstâncias extraordinárias. No entanto, de acordo com o próprio, não se vislumbra essa possibilidade.


Outro ponto importante para Rio, e ao contrário da mensagem que tem sido passada pela comunicação social, a viabilização de um governo PS não é equivalente a um bloco central! Mais, como o defende RR em entrevista a Clara de Sousa, na SIC, viabilizar um governo minoritário do PS em caso de este ser o partido mais votado nas próximas legislativas não significa um bloco central mas sim, evitar a continuidade da Geringonça (com PSL, como RR conclui, ao evitar à priori negociar qualquer acordo com o PS a Geringonça será muito mais provável).


Posto isto, gostaria agora de relembrar algumas ideias chave que RR defendeu no debate (no pouco tempo que teve):


  1. Equilíbrio orçamental: RR defende que se deverá tentar chegar ao super-avit nas contas públicas em períodos de crescimento económico pois apenas dessa forma se terá reservas para combater um ciclo económico negativo. Portanto, estamos a falar numa medida completamente diferente da que é considerada pelo actual Governo. Mais, apenas gerando super-avit se conseguirá reduzir a tão pesada dívida pública;
  2. Acarinhar poupança e investimento: dois factores fundamentais para garantir um crescimento sustentável, em especial se tivermos em consideração as gerações futuras. Com incentivos à poupança e ao investimento (ex: diminuição do IRC... mais uma política contrária àquela que é levada a cabo pela Geringonça), as empresas conseguiriam criar emprego, desenvolver produtos / serviços de elevado valor acrescentado, apostar em I&D. Hoje, temos uma taxa de IRC a rondar os 32% o que dificulta a poupança e o investimento. Veremos se o futuro líder do PSD, seja ele qual for, conseguirá por em prática uma política fiscal mais simpática para as empresas.
  3. Menos burocracia. Crucial para eficiência e eficácia do Estado. E um Estado eficaz poupa recursos (humanos e monetários), e aumenta a qualidade de vida dos cidadãos.
  4. Justiça: para mim, o grande problema da nossa democracia. É insustentável e ridículo as quebras do segredo de justiça. É inaceitável um processo como o de José Sócrates ou Ricardo Salgado demore tanto tempo a ser concluído (e isto, independentemente de serem considerados culpados ou não). Neste ponto, uma vez mais dou razão a RR: a nossa liberdade termina quando começa a do outro. Basta! Fechem-se, trabalhem e, depois, quando estiver decidido, esclareçam e informem os Portugueses.


Relativamente ao segundo debate, notou-se uma aproximação entre os dois candidatos. Isto é, RR aproximou-se de PSL (foi mais preparado para as intrigas pessoais).

A entrevistadora esteve melhor, foi mais acertiva, e permitiu um melhor debate de ideias. Diria que o tom do debate foi bastante mais elevado do que o debate anterior.

As propostas apresentadas não foram assim tão distintas das que já tinham sido debatidas até então. Como RR diz, um debate desta natureza não é, de todo, a melhor alternativa para a discussão genuína de ideias.


Daquilo que ouvi do debate de rádio ( que não foi muito), deu para perceber que os dois candidatos estavam mais tranquilos, mais à vontade (talvez devido à não presença de TV) e, como foi um debate com mais tempo, e com dois moderadores diferentes, foi mais debate. O facto de o tempo não ser cronometrado, de os candidatos não terem de se preocupar com a postura corporal, aproximou o debato radiofónico a uma tertúlia, em que houve mais respeito, mais compreensão e mais debates.


Dos três debates houve uma questão central. Literalmente. PSL tentou sempre colar RR a um defensor do bloco central. Estas palavras foram “música para os ouvidos da comunicação social”. Alimentou a polémica, fizeram-se capas de jornais sensionalistas.


Hoje, vamos ver a quem o partido apoia. Vamos ver quem será o próximo candidato a primeiro ministro.


Espero, acima de tudo, como em qualquer eleição, que os haja uma corrida maciça às urnas. Que a escolha seja indubitável e que se eleja um líder a longo prazo e não a dois anos.


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