A Polícia não é o problema


Depois de mais um vídeo ter corrido as redes sociais a atestar a violência dos bairros ditos sociais na Grande Lisboa, tenho assistido nos dias presentes a vários debates sobre a polícia, o racismo e a criminalidade.

Penso conhecer bem a realidade de alguns destes bairros, sobretudo a de 4 ou 5, nomeadamente porque nasceram, como o tempo passou por eles e quais os seus principais problemas e desafios. E não há como negar: o racismo existe; a criminalidade existe; a polícia também erra. Mas estes problemas, mesmo que graves, são apenas a consequência de um pecado original: mau urbanismo.

Tanto nos velhos bairros de casas ilegais e de barracas (espontâneos) como nos bairros de habitação “social” que os substituíram (planificados), as carências são inúmeras: pouca limpeza, degradação dos prédios e equipamentos públicos, insegurança, crime, separação de comunidades por zonas, rivalidades, pobreza, ausência de oportunidades… factores que conduzem toda uma comunidade à exclusão social. Viver num bairro assim é uma limitação de possibilidades e de horizontes.

Todo o bairro devia ter mais moradores que casas abandonadas, uma boa limpeza, jardim, comércio, escola, igreja, associações, centro cultural (seja com teatro, cinema, biblioteca, galeria de arte ou similares), um centro de dia... e, sim, uma esquadra da polícia.

Ao contrário do que certa esquerda e determinadas organizações ditas “anti-racistas” querem fazer crer, a polícia não é “o” problema. Pelo contrário, qualquer solução de paz no bairro terá sempre de passar pela polícia! Excluir a polícia da equação da paz é uma miragem sem qualquer substância. O vazio de autoridade policial será sempre preenchido por outra força, seja a dos gangs e das máfias ou a desordem anárquica de todos contra todos e cada um por si… em qualquer caso, na ausência de quem faça cumprir o Estado de Direito, este é substituído pela lei da selva que é a lei do mais forte.

Ora, foi por o homem ter rejeitado viver nestas circunstâncias que ele se organizou em sociedade, numa comunidade política em que todos são iguais perante a lei e em que confiamos à polícia a autoridade de fazer cumprir a lei. Como celebremente escreveu Thomas Hobbes no “Leviathan”, fora da sociedade «a vida é solitária, pobre, desagradável, bruta e curta». A primeira garantia de que precisamos da parte do Estado é segurança, e só assim podemos constituir família, trabalhar, procurar ter saúde e educação, e tudo o mais que precisarmos para viver e tentar ser felizes.

Não me agrada a ideia de “super-esquadras” da polícia. A polícia é necessária é em núcleos pequenos e perto de nós. Enquanto a polícia estiver fora de um bairro, só será chamada para intervir quando há desacatos. Aí, a polícia chega de carro e entra na rua abruptamente para impor respeito e tentar evitar ser atingida. Enquanto a polícia estiver fora dos bairros, ela será mais uma força violenta compelida a fazer juízos rápidos e, por isso, frequentemente injustos. Mas se a esquadra estiver no bairro ou próxima dele, se os polícias andarem a pé pelas ruas e não de carro, já não serão os mauzões de arma em punho para punir suspeitos mas sim o Agente Sousa e a Agente Silva que conhecem o bairro e as suas gentes.

PSP fazendo policiamento de proximidade

O policiamento de proximidade não só previne o crime e outros desacatos, como promove a boa convivência e a paz diária. O problema é em parte político, que o Agente Sousa e a Agente Silva são pessoas como nós e estão apenas a cumprir ordens. Mas enquanto não se resolve o problema, façamos um favor a nós mesmos e não subtraiamos a polícia da equação da paz, pois ela existe para estar do lado da paz e das pessoas de bem.

Em segurança, graças à Polícia, podemos combater casos de racismo que são ilegais e não podemos tolerar. Mas já agora, atenção:
- combater o racismo não se trata de vitimizar uma minoria e de lhe impingir rancores identitários;
- combater o racismo não é fazer aquela discriminação positiva que procura obrigar a Polícia a agir de forma mais branda se o criminoso é duma minoria étnica;
- combater o racismo é, precisamente, o contrário de combater: é baixar as armas e construir a paz com todos, olhando para cada pessoa e reconhecendo-lhe plena dignidade.


AVC

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