Algumas ideias sobre este tempo e a resposta Portuguesa




Encontro beleza nos dias de chuva, como este em que escrevo. Sugerem-me um recomeço, mais ainda neste tempo de paragem que atravessamos.
É, de facto, um tempo excepcional este que vivemos. Algo que aconteceu pela última vez há cerca de 100 anos com a Pandemia de Pneumónica.

A resposta que o mundo está a dar, isolando países inteiros e promovendo o distanciamento social – algo que, no caso português pelo menos, choca violentamente com o nosso estilo de vida – bem como o abrandamento do ritmo de vida moderno que isso nos impõe, pode ser terreno fértil para o nosso futuro enquanto comunidade.

De repente temos mesmo que equilibrar o tempo para o trabalho com o tempo para a família pois são duas realidades que passaram a ocupar o mesmo tempo e espaço. 
O chefe tem mesmo que esperar, e tem que aprender a fazê-lo como todos nós.

A implementação em massa das tecnologias necessárias ao teletrabalho e à economia digital abre perspectivas interessantes para a sua continuidade no pós-crise – os benefícios de tempo perdido em deslocações; de espaço que deixa de ser usado nos escritórios, que passam a poder ser mais pequenos; até ecológicos com a redução do número de deslocações diárias para valores mais próximos dos realmente necessários. Mesmo nos padrões de consumo pode uma nova dinâmica laboral trazer resultados mais ponderados e sustentáveis. Haverá redução da necessidade de compra de bens exclusivamente para estar todos os dias no escritório de acordo com um qualquer dress code, por exemplo?

Outra possível consequência muito positiva é a aceleração da autonomia dos colaboradores. A capacidade de organização e gestão de tempo – algo que se aprende como qualquer outra competência – é fundamental para trabalhar remotamente, bem como a busca da mestria nas tarefas desempenhadas. O estilo de gestão do séc. XX implicava ter as pessoas todas por perto, pois assumia que estas não trabalhariam se tivessem oportunidade – que não gostavam de trabalhar.
Ora, sabe-se hoje que a profissão pode ser encarada como uma fonte importante de realização na vida de cada um. Isto pressupõe que a vontade de trabalhar, e de trabalhar bem, é algo que nos é intrínseco e explorável. 
Este desafio que enfrentamos é uma oportunidade de mudar culturas empresariais, de responsabilizar e autonomizar cada colaborador para que procure a melhor forma de atingir e superar os objectivos que lhe são pedidos. Implica um alinhamento de toda a estrutura e um efectivo crescimento e amadurecimento de todos. É o tempo de deixarmos da mentalide do polícia para procurar desenvolver a do líder – cada um de si e dos que estão à sua responsabilidade.

Uma nota final para os Portugueses que se estão a revelar grandes nesta provação.
Fomos mais responsáveis que os governantes, começámos a agir mais cedo – será um sinal de reconhecimento da má gestão de serviços públicos críticos, como o SNS? Tópico a desenvolver no futuro. – e com disciplina, respeito e cuidado pelo próximo e pelos mais vulneráveis. Multiplicam-se as iniciativas para chegar aos mais desfavorecidos, com empresas a fazer doações, fábricas a reinventar linhas de produção, restaurantes a alimentar quem nada tem, marcas criadas só para ajudar na compra de materiais de protecção, cidadãos a fazer no silencio e em suas casas trabalhos essenciais. Todos estes esforços, agregados pelas plataformas que a tecnologia agiliza e coordenados por tantos que se revelam gestores excepcionais, se somam para melhorar o dia-a-dia a quem mais precisa nesta quarentena. A sociedade civil está bem viva, dá o exemplo e não espera que o governo decrete, imprima, programe, implemente crie concursos. O tempo não é de burocracias ocas. Até nisto temos uma oportunidade de repensar o Estado e a sua pesada máquina.

Tomo a liberdade de deixar aqui duas iniciativas que podem explorar. O critério foi, apenas, serem-me próximas e envolverem pessoas e entidades que conheço e em quem tenho razões para confiar.

www.juntosnisto.pt – A Juntos Nisto é uma loja criada com o intuito de converter todo o lucro em compras de material para doar aos serviços que dele precisem. Aceitam sugestões de sítios e materiais em falta. Feita em Portugal, com produtos portugueses e trabalhados por empresas portuguesas, quer fazer a sua parte para manter a economia a trabalhar.


https://www.facebook.com/soumadaspartes/ - o projecto “Souma de todas as partes” procura ajudar quem precisa. Têm a decorrer uma campanha de ajuda alimentar. Pode-se ajudar com donativos (em material, alimentos ou monetários), cozinhando em casa – fazer uma dose um pouco maior e colocar em caixas para congelar e fazer chegar a quem precisa.
Certamente que há outras necessidades e contactando-os poderão saber como contribuir da forma mais eficaz.


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